quinta-feira, 25 de junho de 2009

O maior de todos


Muitos personagens contribuíram ao longo dos anos para enriquecer a história do futebol brasileiro. Mas o tempo nem sempre lhes faz a devida justiça. A memória dos torcedores, principalmente dos mais jovens, tende a relegar alguns dos ídolos ao esquecimento. Com a preocupação de manter vivas as lembranças do nosso passado esportivo, as jornalistas Ana Carla Portella e Danielle Rosa trabalham em um projeto sobre um nome importante do futebol brasileiro: Telê Santana. Depois de muita pesquisa e entrevistas com jogadores e técnicos, elas preparam o documentário "Meio século de futebol-arte", com lançamento previsto para o segundo semestre deste ano.

Jogador de categoria (atuou por Fluminense, Guarani e Vasco) e um dos melhores treinadores da história do futebol nacional, comandou Fluminense, Atlético-MG, Grêmio, Palmeiras, Seleção Brasileira, Flamengo e São Paulo. O "Mestre Telê" possui uma carreira rica de momentos inesquecíveis. Muitas destas informações não se encontram tão acessíveis. As jornalistas pretendem mudar esse quadro.

“Percebemos que não havia muitos registros sobre o Telê. Ele teve uma carreira cheia de altos e baixos, mas sempre foi admirado por todos. Após o nosso trabalho de conclusão de curso em jornalismo, sobre o esporte, nasceu a idéia de contar melhor essa história de vida”, explica Ana Carla Portella.

Mais de 80 pessoas foram entrevistadas, entre jogadores, técnicos, jornalistas e dirigentes que conviveram com Telê.

“Entre os entrevistados, conversamos com grandes nomes do futebol como Zico, Sócrates, Júnior, Raí, Leonardo, Muricy Ramalho, Müller e Dadá Maravilha. Fiquei surpresa de ter tido um contato tranquilo com os entrevistados, que não demonstraram nenhum preconceito por sermos mulheres. Aprendemos muito sobre a história do Telê”, afirmou a jornalista.

A escolha pelo personagem também foi uma forma de resgatar um momento do futebol que, segundo Ana Carla, não existe mais. Apesar do amor declarado pelo esporte, ela lamenta que muito da magia contagiante dos gramados tenha ficado no passado. Para uma das produtoras do documentário, Telê foi um dos últimos defensores do "futebol-arte". O comandante da talentosa seleção de 82 deixou lições muito importantes, que deveriam continuar sendo referência no meio esportivo.

“Percebemos que a história do Telê vai além do que sabemos. Nos surpreendeu também que nenhum dos entrevistados falou mal dele. Procuramos até personagens polêmicos como o Eurico Miranda (chefe da delegação do Brasil na Copa de 86), mas todos sempre destacam a ética, honestidade e seriedade do trabalho dele. Até entre os torcedores ele é uma unanimidade. Deixou um legado como técnico e como ser humano. Muitas de suas atitudes servem de exemplo para todos, sejam do ambiente esportivo ou não”, afirmaram.

Jogador do Fluminense de 1951 a 60 (no qual foi campeão carioca em 51 e 59), apelidado de "Fio de Esperança" por ser muito magro, Telê marcou definitivamente seu nome na história do futebol nacional como treinador. Iniciou a carreira de técnico em 69, exatamente no Tricolor carioca. E logo foi campeão estadual. Conquistou no clube também o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 70. Competição equivalente ao Campeonato Brasileiro na época.

No mesmo ano, foi para o Atlético-MG, também conquistando o título estadual. E o primeiro Brasileirão, disputado em 1971. Em 77, venceu o Campeonato Gaúcho pelo Grêmio, interrompendo oito anos de domínio do Inter no Rio Grande do Sul. Dois anos depois, levou o Palmeiras à semifinal do Brasileiro-79. Os bons trabalhos fizeram o então presidente da CBF, Giulite Coutinho, convidá-lo para assumir a seleção em 1980. Formou o selecionado reconhecido pela maioria dos analistas como o melhor depois do escrete de 70. Mas a traumática derrota para a Itália nas quartas de final da Copa de 82 causou sua saída do cargo.

Após passagem pelo Al-Ahly (Arábia Saudita), voltou à seleção em 85. E ficou até a eliminação na Copa de 86, diante da França, nos pênaltis, novamente nas quartas. Após treinar Atlético-MG e Flamengo, chegou ao São Paulo em 90. E marcou época no clube paulista, ganhando dois títulos paulistas (91/92), o Brasileiro de 91 e as Libertadores e os Mundiais Interclubes em 92 e 93. Além da Supercopa da Libertadores-93 e das Recopas Sul-Americanas de 93 e 94. Em 1996, sofeu uma isquemia cerebral, que o obrigou a deixar o futebol. Faleceu em 21 de abril de 2006, aos 75 anos.

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